O Tirano do sorriso: por que a dor, e não a alegria, nos torna humanos.
Sinto que vivemos sob a égide de um novo tirano: o imperativo da felicidade. Há uma exigência social, sistemática, para que todos exibam um êxtase contínuo, uma alegria propagada em excesso e sem fissuras. E isso, confesso, me intriga profundamente.
Onde estão as lágrimas sinceras? Onde se escondeu a dor que nos humaniza? Demonstrar a tristeza ou a fragilidade se tornou, aos olhos do mundo, um sintoma de fraqueza? E a felicidade, esta máscara de constante euforia, seria agora a única métrica de força?
Eu, particularmente, desconheço a história de uma única alma que tenha alcançado a maturidade — seja ela profissional, pessoal ou espiritual — sem antes atravessar o vale da sombra. Ninguém evolui em solo plano e ensolarado.
A verdade é que a alegria excessiva e ininterrupta é estéril. São as nossas rupturas, as nossas crises e as nossas vulnerabilidades que nos talham e nos tornam profundos. O crescimento verdadeiro não está no sorriso perene, mas sim na coragem de chorar e, ainda assim, continuar.
Kico Seridó.
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